Prezad@s Alun@s,
Tive o prazer e honra de ser aluno da professora Virgínia Fontes, com quem fiz um curso sobre Antonio Gramsci, durante o meu doutoramento na FEUFF, ministrado em companhia da professora Lúcia Neves. Recebi, pela newsletter do NUFIPE (meu grupo de pesquisa), este depoimento dela sobre Carlos Nelson Coutinho, e socializo com vocês como subsídio para os nossos futuros encontros, nos quais o debate sobre "democracia" e "socialismo" estará presente.
"Escrevo para chorar a perda de um
grande amigo, desses que existem poucos no mundo. Carlos Nelson Coutinho
faleceu hoje, dia 20 de setembro de 2012, após uma intensa luta contra
um câncer, período em que contou com todo o apoio e carinho de Andréa,
sua mulher e de Natália, sua filha.
Sinto um enorme vazio, ao tempo em que me dou conta de conservar a
plenitude de um legado feito de reflexões, de afetos, de bom humor
baiano, legado comunista e internacionalista. É do fundo dessa dolorida
contradição que escrevo. Tive o privilégio de me tornar amiga desse
homem, de quem muitas vezes discordei e com quem partilhei a experiência
de que o comunismo é mais do que um receituário conceitual, é mais do
que uma batalha de citações: é um mundo do pensamento pulsante e em
luta, na política, na sociedade, nos partidos, na economia, na
historicidade, na erudição, na arte. Luta pulsante presente também na
amizade.
Comunista, o mais importante gramsciano brasileiro, Carlos Nelson
foi um grande teórico marxista e o nosso mais importante pensador da
democracia e, sobretudo, das exigências permanentes de democratização no
Brasil. Não uma democracia mesquinha e rebaixada, a aplastrar as
conquistas populares duramente alcançadas, mas uma democratização que
espelhe e assegure a plena socialização da existência em todos os
sentidos, da economia ao cotidiano. Carlos Nélson nunca exigiu acordo
pleno de ideias para oferecer seu respeito e seu afeto, e com isso
ensinou a muitas gerações a compreender que a luta de classes, por ser
rigorosa, precisa também ser franca, aberta e plena.
Me despeço do homem, a quem não consegui abraçar antes da partida.
Abre-se agora o tempo do longo e profundo em torno de sua obra, não para
elogios póstumos, mas para o intenso debate que ela impõe, merece e
exige. Ele se foi, mas permanece. Carlos Nélson sai de nosso convívio
para se converter em nosso clássico."
Virgínia Fontes - Professora de História (UFF)
Nenhum comentário:
Postar um comentário